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Ela encontrou o seu próprio caminho pra dentro da minha casa

Pelo amor de Deus, eu preciso de ajuda. Eu já não sei mais o que fazer. Eu tentei conversar com a minha esposa sobre isso, mas ela é uma professora de ciências e graças às diversas brincadeiras idiotas que faço ela acha que é só mais uma das minhas.
Tem algo ou alguém me seguindo. Eu não sei bem o que isso quer, mas toda noite isso tem me aterrorizado desde a primeira vez que a vi. Ela não me toca, ela não se comunica de nenhum jeito, apenas me enche de pavor. Se eu divagar em algum momento, por favor, me perdoem... Eu não durmo há vários dias.



Nós vivemos no segundo andar de um sobrado, com escadas no fundo da casa que vão para o porão onde as máquinas de lavar estão. Tem uma porta em frente à escada antes da porta do porão que dá para a nossa varanda e para o quintal. Seis dias atrás eu estava indo para o porão pegar uma parte da roupa lavada e como de costume eu olhei para fora pela porta que eu passei. Havia uma figura de pé na parte mais distante do nosso quintal. Ela estava de costas para mim, e ela só estava ali de pé, olhando para as árvores atrás do nosso quintal. Ela não estava vestida com nada além de um tipo de vestido de luz. Tinha uma coisa saindo dela. Um tipo de fluído que ficava chicoteando em volta dela lentamente. Aquilo tudo me assustou instantaneamente, mas pensei que ela fosse uma amiga do nosso vizinho e continuei para o porão. Quando eu voltei do porão ela já não estava mais lá.
Na noite seguinte eu desci de novo, e quando passei pela porta de trás eu olhei para fora. A mulher estava de volta. Ela estava exatamente no mesmo lugar da noite anterior, de costas para a porta e sem se mover. Fiquei todo arrepiado e muito assustado quando eu há vi. Fiquei ainda mais assustado quando eu vi que ela estava com as mesmas roupas da noite passada. Foi quando eu fiz algo que definitivamente não deveria ter feito... Eu abri a porta. Sai de casa e a chamei, perguntando se ela estava bem. Ela não deu nenhum indício de que tinha me ouvido. Não esboçou nenhuma reação e permaneceu lá, imóvel e olhando para a mesma direção. Estava muito frio, então entrei e tranquei a porta. Quando subi as escadas em direção ao quarto eu olhei pela janela e ela havia ido embora.
Mais tarde nessa mesma noite, eu estava na cama, me preparando para dormir. O quarto estava escuro, pois minha esposa dorme antes de mim. Nosso quarto tem uma janela que dá direto para o quintal, e o meu lado da cama fica de cara para essa janela, então querendo ou não sempre olho pela janela antes de cair na cama. Enquanto me preparava para deitar de repente tive aquela mesma sensação terrível no estômago que eu tive na primeira vez que eu vi aquele ser no jardim. Algo me obrigou a fazer aquilo. Minhas mãos tremiam enquanto eu puxava a cortina e espiava o jardim por uma fresta. Era uma noite clara, com o céu limpo, de modo que o jardim não estava escuro. A mulher não estava mais beirando as árvores, mas no meio do quintal, de frente para a casa com a cabeça inclinada para cima olhando diretamente para a minha janela. Seu rosto estava coberto pela sombra e pelos cabelos, mas eu pude ver seu nariz e queixo. Um nariz pontudo e um queixo fino. Sua pele parecia cinza, eu acho. Seu cabelo era preto e longo, na altura da cintura. Sua pele parecia cinza, eu acho. Eu estava tão assustado que pulei na cama e me cobri por inteiro. 
No dia seguinte comecei a limpar a neve na frente da casa com a minha filha de quatro anos. Ela queria que eu a puxasse em seu trenó no quintal, mas apenas o pensamento de voltar lá me fez entrar em pânico de novo, então eu falei para ela ficar cavoucando a neve ali mesmo onde estávamos. Naquela noite, as coisas foram de mal a pior. De alguma forma eu havia conseguido esquecer aquela mulher. Então no meio da noite minha filha começou a chorar. Nosso quarto fica no lado oposto do corredor. Eu pensei que ela queria ir ao banheiro, ou apenas tivesse tido um pesadelo, então fui para o quarto dela para ver se estava tudo bem. Ela não estava como costumávamos deixar. Ela estava enrolada em uma bola de cobertores em cima do colchão. Puxei as cobertas sobre ela e foi quando ela sussurrou pra mim.
“Papai tem alguém no meu armário”
Meu corpo se encheu de arrepios instantaneamente. Eu virei à cabeça lentamente para a porta no armário no pé de sua cama. Normalmente o armário sempre fica fechado, mas agora estava aberto. A mulher estava de pé no armário da minha filha. Nem mesmo quando ficou claro que eu a vi ela se mexeu ou fez barulho, apenas ficou lá e me olhou através da porta semiaberta. Meu sangue gelou quando a vi. 
“Levanta”, eu disse pra minha filha. “Vem com o papai, rápido. RÁPIDO”. Ela subiu no meu colo o mais rápido que pode e me abraçou com força. Eu andei para fora do quarto, observando o armário o tempo todo. Na minha mente eu só imaginava o pior. Aquela... Coisa jogando a porta longe e vindo pra cima de nós com os braços estendidos. Eu apenas abracei a minha filha e fui embora do seu quarto sem tirar o olho do armário. A mulher não apareceu na porta. Não ouvi nenhum barulho ou movimento vindo do quarto da minha filha. Coloquei-a na minha cama e fiquei observando o corredor. Não voltei para o quarto, apenas fiquei ali parado, esperando o pior. Quando finalmente tive coragem de me deitar na cama eu não consegui dormir.
No domingo eu contei tudo para a minha esposa. Eu disse a ela sobre a primeira vez que vi essa mulher, disse a ela também quando a chamei no quintal e quando a vi pela janela. Enfim contei sobre a mulher ter aparecido no armário de nossa filha. Ela me disse que não tinha graça, e que era minha culpa pela nossa filha ter pesadelos e eu não deveria incentivá-la a ter medo de seu armário. 
Domingo à noite, minha filha me chamou no seu quarto novamente. Chame-me de covarde, medroso, cuzão... Mas eu não podia voltar naquele quarto. Chamei-a o mais baixo que pude para que ela viesse dormir na nossa cama, mas ela começou a chorar e disse que estava com medo. Eu queria ir busca-la, mas estava com medo também. Eu falei para ela pegar os seus cobertores e se cobrir com completo. “Apenas se cubra, meu amor. Vai ficar tudo bem.” Rezei por dentro para que isso fosse verdade. Fiquei ali, espreitando o corredor sob a minha esposa adormecida, olhando diretamente para a porta fechada do quarto da minha filha e só ficava rezando. Ouvi-la chorar por mais alguns momentos, então ela ficou em silencio e eu esperando que ela estivesse dormindo. 
Segunda-Feira, eu empilhei os brinquedos da minha filha em frente ao seu armário. Já não tinha mais nenhuma dúvida de que isso era uma espécie de fantasma, demônio ou aparição, mas eu empilhei os brinquedos de qualquer forma. Como se uma pilha de brinquedos fosse parar um fantasma. Talvez tenha feito isso apenas para ter um pouco de paz de espírito... Eu não sei.
Segunda à noite minha filha não chorou, mas eu não dormi. Fiquei ali, olhando para o teto, tenso. Por volta de 02:00 eu ouvi a porta do quarto da minha filha ranger, como se estivesse sendo aberta. Eu sabia que algo estava errado. Ela deve estar com medo, eu pensei então eu a chamei como havia feito antes. “Filha”. Mas ela não veio. A mulher estava ali de pé, na porta do quarto da minha filha. Seus braços pendurados em seu corpo, com os ombros largados para baixo. Seu vestido estava sujo, como se não o lavasse há anos, e todo rasgado como um trapo velho. Eu não estava respirando eu não estava piscando, eu só olhei para ela e olhou para mim, e eu pensei é isso... Vou morreu. Ela não mudou de lugar, falou algo ou fez som algum. Eu sussurrei “Por favor, vá embora... Por favor... Deixe-me em paz... Por favor... Me... Desculpe...”. Eu não conseguia desviar o olhar. Se eu olhasse para qualquer outro lugar ela chegaria mais perto, e só Deus sabe o que ela faria. Eu tinha certeza disso. Se eu fechar meus olhos, quando eu abrir os olhos ela vai estar de pé em cima de mim. Em algum momento ela se foi. Foi como se eu tivesse dormido de olhos aberto. Eu não consigo me lembrar dela desaparecendo, só que eu estava olhando para a porta e ela não estava mais lá.
Na última noite eu fiquei acordado, esperando. Eu perguntei a minha esposa sobre fechar a nossa porta do quarto, porque a luz da noite no corredor estava me deixando acordado. Isso foi estúpido, eu não sei o que estava pensando. Como um relógio eu ouvi a porta do quarto da minha filha rangendo para abrir. Eu prendi a respiração. Então eu ouvi o assoalho do corredor ranger e comecei a tremer involuntariamente. Eu ouvi a porta do quarto sendo aberta, e eu sabia que ela estava ali de pé, na porta, sem se mover e olhando pra mim. Eu não olhei. Eu não podia. Eu fiz o que eu tinha dito a minha filha. Puxei as cobertas até minha cabeça e me cobri por completo.
Minha vida virou uma bagunça. Eu sou um zumbi no trabalho, e já chego querendo não voltar nunca mais pra casa. Acho que vi a mulher em outros lugares. Uma olhada com o canto do olho enquanto estou dirigindo e acho que ela está no banco do passageiro do caminhão atrás de mim ou de pé na calçada das ruas que eu passo. Estou sentado na minha mesa do trabalho, alguém passa por mim e eu pulo. Tenho medo de me virar e ela estar lá, esperando eu olhar para ela.
E seu eu vi seu rosto? NÃO! E nem quero. Eu não quero mais vê-la, mas eu não sei o que posso fazer. A única esperança que tenho é que, com a mudança que minha esposa quer isso acabe. Mas o nosso contrato vai até Maio. Não sei se posso aguentar por muito tempo.

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