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Os Sete

- Vamos lá, só um pedacinho... - incitou Bertha.  - Parece tão bom. Todo mundo adora comida. Pegue um pedacinho, você não vai se arrepender... 
- NÃO!  - eu disse para essa mulher gorda que eu chamo de Bertha. Ela me deixa enjoado. Sua boca estava espumando pelo canto como se quisesse comer um pedaço de si mesma. Ela olhou para ele com esse olhar intenso em seus olhos.
- Vá embora, Bertha, sua porca gorda! Nós não estamos comendo. - eu disse. Ela virou a cabeça para mim e assoviou. Seu bafo era horrível, mas o insulto foi o suficiente e Bertha foi embora.

- Você sempre vai poder fodê-lo, você sabe. - disse Lygia, que surgiu do nada. Lygia tinha um pequeno corpo de ampulheta, com a cintura fina e os seios fartos. Ela tinha os cabelos escuros. Ou seriam loiros? Ou ruivos? Eu realmente não sei. Ela já foi tudo isso, eu acho. 
- Vá em frente. Basta abrir o seu zíper - disse ela enquanto estava tocando suas partes íntimas. - Puxe o seu menino para fora e...
- NÃO. - eu gritei. - Você é uma vadia doente e eu não vou fazer sexo com ele. O belo rosto de Lydia se encheu de frustração. Mesmo com raiva ela era muito atraente, mas o insulto foi o suficiente e Lydia foi embora.

- Fodê-lo ou comê-lo é um desperdício - disse uma voz baixa atrás de mim. - O melhor seria vendê-lo Eu conheço um cara que conhece um cara que pagaria uma nota preta por isso. Eu levei a proposta em consideração. Eu poderia usar o dinheiro. Eu poderia usar o dinheiro...
- Não! Eu não vou vendê-lo, Rico. Eu me virei para encará-lo. Ele é baixinho e pançudo, com o cabelo penteado para trás, vestido com uma camisa e gravata e uma jaqueta de couro, pronto para os negócios. Ele usava uma calça jeans com tênis, algo nem um pouco profissional. 
- Você é um sanguessuga oportunista, Rico, mas eu não estou tão necessitado assim. Vá se foder, Rico. 
- Para mim tanto faz, idiota - e Rico foi embora.

- É bom que você não ouvi-lo. - disse Kyle do sofá. - Isso é muito trabalho. Ele surgiu com um saco de salgadinhos e enfiou um punhado na boca. Kyle era quase tão ruim quanto o resto, afinal de contas ele nunca ofereceu qualquer sugestão decente. 
- Eu acho que você poderia deixá-lo ai, se preocupar com isso mais tarde, sabe? Não adianta se preocupar com isso agora. Ele limpou os farelos do salgadinho em sua boca na sua camisa branca.
- O quê? NÃO! - Eu gritei. - Kyle, não podemos simplesmente deixá-lo aqui, porra. Você é um babaca preguiçoso.
- Para mim tanto faz, cara. E Kyle foi embora.

- DESPEDAÇA ESSA PORRA! 
- O quê? - perguntei a George, que parecia surgir do nada.
- Você me ouviu! - ele gritou enquanto malhava com um haltere. - DESPEDAÇA ESSA MERDA. MOSTRE A SUA RAIVA. JOGA TUDO PRO AR. FAÇA UMA CENA DO CARALHO. Então eu assisti George malhando movido por sua raiva. Seus músculos pulsavam e seu rosto estava completamente vermelho. 
- Não, George. Nós não vamos fazer isso. Só vai servir pra fazer mais bagunça. Você é um maldito gorila bombado, e você precisa relaxar cara. 
Ele jogou o haltere no chão. 
- Tudo bem. FODA-SE ENTÃO. - ele gritou, e ele foi embora.

- Eu não vejo por que você tem que fazer nenhuma dessas coisas - disse Jean. Eu sempre me senti mal por Jean. Ele era apenas uma criança que você poderia dizer que era feliz se não fosse por aquele olhar em seu rosto. Um olhar de fome, triste, de quem desejava tudo aquilo que olhava, com um sentimento de que poderia ter tudo aquilo também. Só então ele seria completo. Ele olhou para mim tristemente. 
- Você sabe, eles falam sobre como fazer todas essas coisas, mas isso não é realmente necessário. Parece que está tudo melhor do jeito que está agora, você não acha? Eu gostaria de ter isso. Espero que você possa ter isso. Não é difícil, você só tem que...
- Não, Jean. Eu sei o que você está pedindo, e eu não posso fazer isso. Apesar de eu merecer, eu não vou. Eu não quero isso. Sinto muito, mas você precisa sair. Você está apenas tentando me fazer sentir culpado.
- Sim, sim, você está certo, eu acho. - disse Jean. - Quero dizer, está para você de qualquer maneira, apenas me ignore. Depois de dar um último olhar esperançoso para ele, ele se virou e saiu. Jean foi embora.

Fiquei ali sentado olhando para ele. Eu tinha seis opiniões sobre como lidar com isso e nenhum delas foi útil. Foi só um maldito desperdício de tempo. Agora eu estou preso aqui com ele, sem saber o que fazer.
- Isso foi muito bom, meu filho - disse uma voz atrás de mim.
- Hã? P... Pai?
Ele sentou-se ali em sua camisola com o seu cachimbo e jornal. Seu cabelo grisalho parecia agradável e brilhante enquanto ele balançava para frente e para trás em sua cadeira. 
- Isso mesmo. E como eu disse um bom trabalho, filho. Você poderia ter ouvido qualquer um daqueles retardados, mas não o fez. Isso é muito bom de você. Mas... - ele fez uma pausa enquanto se levantava da cadeira. Ele largou o jornal, mas continuou fumando seu cachimbo. 
- ...eles não tinham direção. Nenhuma motivação. Um homem precisa disso. Um homem precisa fazer um bom trabalho e ser capaz de apresentá-lo, para que as pessoas saibam que é que ele é mais do que apenas um homem, é um homem que se preze. Você entendeu meu filho?
- Eu... Eu acho que sim - eu disse a ele.
Ele me pegou pelo ombro, como ele sempre faz quando ele está me dando um bom conselho. - Você tem que mostrar ao mundo o que você fez. Você tem que os fazer saberem que você é um trabalhador movido por suas paixões e que ninguém deve ficar no caminho disso. Há consequências para os homens que ficam no caminho dos sonhos de outras pessoas. Este é o seu trabalho, e você precisa apresentá-lo. Você captou o que eu estou dizendo, meu filho?
"Sim, pai. Muito obrigado".
Meu pai me deu um último abraço. 
- Não tem problema, garoto. Estou muito orgulhoso de você. Agora vai mostrar a eles do que você é feito, ok?
- Sim, pai. Eu vou.

Ele estava certo. A resposta não era comê-lo, ter relações sexuais com ele, vendê-lo, não fazer nada, ficar violento, ou me matar. A resposta é ter orgulho do que fiz, do que eu faço, e isso é o que eu sempre faço com o meu trabalho. Mostrar às pessoas do que eu sou feito. É assim que deve ser feito.
Ao cair da noite, eu vou levar o corpo e jogá-lo do viaduto no meio do tráfego, na hora do rush. Vai ser fácil fugir de lá. Então, todo mundo vai ver o meu trabalho. Todo mundo vai conhecer o meu trabalho.
Obrigado, pai. Estou também estou muito orgulhoso de mim mesmo.

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